O universo em mim
Querido diário,
Meu corpo tem gritado em silêncio, enquanto minha alma, inquieta,
percorre seus caminhos, despejando resquícios de lágrimas quentes que,
por tanto tempo, foram contidas.
Observei, por tempo demasiado, o céu. De dia, de noite.
Estive com o meu diário em mãos, mas não pude escrevê-lo.
No silêncio, as palavras se fixavam à minha alma,
como se apenas ele fosse testemunha do que não pôde ser proclamado.
Ao longe, bem longe, avistei montanhas.
Desejei, por longos instantes, desvendar o mistério por detrás delas.
O que havia ali?
Surgiram pássaros,
Acompanhei-os com os olhos - vagavam juntos, sem pressa.
Como eu queria poder ser como eles: paciente, livre, cômoda.
Para voar, para desvendar, para amar.
Haviam pessoas próximas a mim.
Mas eu não as ouvia, não entendia o que diziam.
Era como se, por algumas horas, estivesse desconectada,
longe, distante do que me oferecia o mundo real.
Eu estava presente na transcendência,
no que a razão não pode tocar.
Eu fui o céu. A ventania. O silêncio. A solidão. As nuvens.
Nada podia tocar-me.
À noite, retornei ao meu mundo impenetrável.
A lua, tão gigante, estava serena, quieta, silenciosa -
mas profundamente bela e misteriosa.
Minhas doces constelações, tão imensas,
dificultavam meu campo de visão.
À lua, disse-lhe:
"Eu amo você."
Às estrelas, falei:
"Eu amo vocês, mesmo as que brilham menos.
Mas, para mim, todas brilham da mesma forma."
Em seguida, cantei-lhes uma canção que meu coração conhecia bem:
"E por falar em saudade... Onde anda você?"
Sem ritmo definido, sem pressa, sem agonia.
Um silêncio profundo. Um respiro após o outro.
Desci da janela.
Mas antes de pôr os pés no chão, deparei-me com algo inusitado -
e mágico.
Uma
estrela
cadente.
Os meus olhos brilhavam. Eu não esperava.
Não soube exatamente o que dizer,
mas minha alma... disse por mim.
Então, numa tentativa singela, fiz um pedido -
o mesmo pedido de sempre.
Se fui ouvida? Acho que sim.
O momento que vivi foi intenso, real, único.
Apenas minha alma pôde tocar.
Naquele instante, talvez eu não estivesse sozinha.
As estrelas, a lua, a solidão, o silêncio...
respiravam junto a mim.
Observavam-me -
assim como eu as observava.
Comentários (3)
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Sexta-feira, 18 de Julho de 2025 �s 02:36
obrigada, querida @fenixlouren
Quinta-feira, 17 de Julho de 2025 �s 13:03
Continua a partilhar entradas dessas, amei mesmo
Quinta-feira, 17 de Julho de 2025 �s 13:03
Amei a forma como escreves, parabens,em relação em nunca estarmos sozinhos, por mais que sintamos, nunca estamos. Ha sempre alguem no mundo, a partilhar a mesma dor.