Companhia não solicitada

Sem aviso, alguém que nunca esteve sequer perto dos meus pensamentos decidiu se instalar neles. Não por merecimento ou conexão genuína, mas por insistência - como quem bate à porta repetidamente, mesmo ouvindo um "não há vagas" silencioso. Apareceu em minha casa, despejou palavras que pareciam saídas de um roteiro mal escrito, confessou sentimentos fabricados... E, em questão de dias, já projetava planos que envolviam os dois, como se o futuro fosse um quebra-cabeça onde ele encaixava peças aleatórias.

A verdade é que meu coração já está ocupado. Não por capricho, mas por um amor que me pertence e ao qual pertenço, mesmo que um dia a vida nos separe. Se isso acontecer, não pretendo substituí-lo. Entendi, após anos de desencontros, que preciso ser minha própria prioridade. Como posso me dedicar a alguém se ainda luto para compreender quem sou? Entre compromissos de adulta e dúvidas de adolescente, descubro que amar a si mesma não é um clichê - é uma revolução diária. Tenho cicatrizes a aceitar, hábitos a transformar, solidão a abraçar antes de pensar em dividir espaço com outra alma.

O tal intruso, no entanto, não queria espaço - queria um atalho. Justificou suas investidas com frases como "pode ser o último dia", como se o medo da morte desse direito sobre o tempo alheio. Vi através do teatro: ele não buscava conexão, apenas um refúgio temporário para suas inquietações. E, ironicamente, fazia isso traindo um voto que já não lhe pesava mais. O anel no dedo dele era só um adereço, um detalhe esquecido na pressa de satisfazer um desejo momentâneo.

Escrevo isso não com raiva, mas com clareza. Percebo que há pessoas que confundem carência com amor, solidão com oportunidade. E aprendi, da maneira mais dura, que dizer "não" é também um ato de amor - principalmente por mim. Não sou um objeto para preencher vazios alheios, nem um quebra-cabeça para distrair mentes entediadas.

Hoje, escolho proteger o que já construí: minha paz, meu crescimento, meu afeto verdadeiro. O resto? São capítulos que nem merecem ser lidos.

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